Upcycling é o processo onde literalmente se dá uma ‘subida’ na reciclagem do resíduo ou descarte, ou um ‘up no visual’, mas esta reconfiguração, redesign, não é superficial, pois ao procurar evitar o desperdício de materiais ainda úteis, os transforma, sem passar por processos químicos poluidores ou consumidores de água e energia, é uma reciclagem que ressignifica criativamente o objeto descartado, seguindo os passos da natureza onde ‘nada se perde tudo se transforma’, num ciclo de vida do produto onde não há morte ou fim, mas sempre novos começos.
Mais do reciclar, é pensar no reuso e reaproveitamento e porque não dar um novo destino a um produto, e pode ser algo completamente diferente...
Você já imaginou um sapato feito de um vestido usado, uma
saia feminina feita de uma camisa masculina descartada pela indústria ou um
colar feito com refugos de madeiras nobres? Pois hoje, muitos designers
buscam em seus projetos pensar em alternativas criativas e sustentáveis para
reaproveitamento do que é descartado pela sociedade de consumo e produção. É o
caso de três estúdios de design envolvidos com moda e processos sustentáveis: Insecta Shoes, Comas e Crua. Estes são alguns exemplos, mas existem outros estúdios e empreendedores por aí que trabalham com upcycling.
O Design Culture trouxe um pouquinho sobre os 3 estúdios pra que possamos conhecer essa outra forma de trabalho e nos inspirar.
“Transformamos em sapatos peças de roupas usadas, além de
garrafas de plástico recicladas. Os mais diversos tecidos e estampas daqueles
modelitos abandonados viram botas, oxfords, sandálias e slippers veganos, sem
nenhum uso de matéria-prima de origem animal.”
Com um posicionamento de marca bem cuidado a Insecta Shoes
produz em Porto Alegre sapatos e acessórios unissex ecológicos e veganos. Toda
a matéria-prima utilizada nos sapatos é reciclada no processo de upcycling:
borracha triturada do excedente da indústria calçadista, plástico reciclado,
reutilização de roupas de brechó, tecido feito com garrafas PET recicladas,
algodão reciclado, jeans reciclado. As coleções são pensadas e criadas
mensalmente de acordo com o que encontram nas suas garimpagens de tecidos e
materiais, não seguindo tendências de moda.
Os editoriais da marca são sempre em forma de manifesto onde
aparecem as idéias que guiam os criativos da marca e orientam seus
consumidores, como veganismo, consumo consciente, redução de lixo, cuidado com
o meio ambiente. A marca trabalha com o ciclo completo de vida de seus
produtos, pois propõe aos seus usuários que devolvam seus sapatos à Insecta quando
deixarem de utilizá-los, para que novamente possam ser reciclados.
“Camisas são peças ícones, de estilo permanente, durável,
sem prazo de validade. Essas características acabam se imprimindo nas peças que
fazemos, e na política da marca, que vai na contramão da lógica do descartável,
das tendências que passam rápido”
A marca Comas idealizada pela designer uruguaia Agustina
Comas segue uma ‘máxima’ nas suas criações, a de minimizar o impacto da
indústria têxtil sobre o meio ambiente, por isso vem utilizando o upcycling nas
suas produções, como afirma a designer “Todos os dias as fábricas descartam
produtos que não passam pelos controles de qualidade e muitas peças são
deixadas de lado. Pra nós, essa sobra é matéria-prima”. O trabalho começa com
uma cuidadosa seleção de camisas masculinas descartadas pelas fábricas, devido
algum defeito na fabricação, são identificados os melhores tecidos e a melhor
confecção, o desafio segundo Agustina “é selecionar aquelas que têm maior
potencial de transformação.”
“Através de um olhar atento e sensível busca-se a harmonia
de materiais reutilizados ou inusitados com novos elementos, para a construção
de produtos de moda e design.”
O estúdio Crua da designer Germana Lopes tem como conceito a
ressignificação de materiais, no caso, a reutilização de restos de madeira de
marcenarias ou descartadas na rua para o desenvolvimento de acessórios.